Prazer sexual: necessidade, sublimação ou traço de personalidade?

15/04/2020 16:13

Por que eu busco o prazer sexual?! ... 

 

Apesar de ter tido uma criação religiosa, eu perdi a minha virgindade com uma garota de programa. Lembro-me de ter cultivado dentro de mim, até os 21 anos, a esperança de uma primeira vez especial, com alguém com quem eu já vivesse e continuaria construindo um relacionamento. Eu me imaginava um homem de uma mulher só. Tornar-me pai cedo, e poder educar meus filhos e compartilhar com eles músicas, valores, gostos etc.

 

Não foi como o planejado. Hoje, escrevendo, percebo que a área sexual é a que mais me 'fugiu do controle' desde o início. Para um virginiano, isso é algo muito relevante. Lembro que mesmo não abandonando o sonho acima citado, um dia, voltando da faculdade, pedi pro amigo da van me deixar no meio do caminho e fui; Sayonara, o nome do lugar; frio na barriga, quando me recordo; minha tia me ligou, como se sentisse o que iria acontecer, eu disse que ia 'tomar uma' e ela ainda brincou: "usa camisinha, hein!". Fernanda era o nome dela. Foi massa. Mas uma mistura de prazer e culpa que me acompanham até hoje. Eis a minha queda do paraíso.

 

Depois disso, o sexo se tornou um lugar de sublimação. Comportamento que conduzia diferentes tipos de energia - alegria, frustração, raiva, êxito etc - para longe de atos destrutivos. Eu fazia o que é socialmente aceitável. E até esperado de um 'homem'. Engraçado que quando me reporto à minha primeira vez, não consigo definir bem se era uma necessidade minha, ou das pessoas à minha volta. Lembro de ser bastante cobrado por isso. Enfim, já foi. Digamos que a busca pelo prazer sexual começou, para mim, como uma 'necessidade' e se tornou sublimação.

 

Quando conheci minha ex-esposa, a experiência mais próxima de reciprocidade que vivi até hoje, pensei que isso se resolveria. Sim, eu ainda me apego ao sonho de ser um homem de uma mulher só. Fomos sexualmente resolvidos. No entanto, à medida em que o substrato sentimental em ambos se mostrou não ser suficiente para sustentar um relacionamento, o sexo voltou a ser um lugar de desafio. Divorciei-me.

 

Nesse ponto, a sublimação tinha justificativa mega plausível, né?! Por infelizmente reforçar isso a mim mesmo como verdade, a busca por prazer sexual se automatizou e se tornou fuga/vício. E a ressaca moral sempre me levava a questionar sobre minha 'escolhida', meus filhos e meu sonho... Ainda bem que tive coragem de começar a fazer terapia. Porém, esse nunca foi o tema central de uma sessão. E olha que quando meu terapeuta me perguntou o que eu fazia lá, eu cheguei a apontar como um dos motivos o fato de achar que era viciado em sexo.

 

A maturidade e as minhas experiências transformaram minha criação religiosa em espiritualidade. Hoje, depois de elaborar toda essa trajetória sobre a minha busca por prazer sexual, sob a ótica psicológica e espiritual, compreendo-a como um traço da minha personalidade.

 

O prazer sexual puro nunca me preencheu. Há vezes em que se apresenta como ‘necessidade fisiológica’, em outras, como mera sublimação; todavia, experimentá-lo alinhado ao desejo que ele representa para mim desde o início, revelá-lo-á como força ativa que orienta minha forma de pensar, sentir e agir.

 

Ainda não me sinto bem quando busco o prazer pelo prazer. Perdoo-me, enfim.

 

Raul Roland